sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Medos bobos x Coragem absurda



Por volta das quatro horas da manhã acordei com a respiração ofegante do Davi, a preocupação tomou conta do cansaço. Perdi o sono.

Ele de novo vinha tendo secreções que não o deixavam respirar direito, tínhamos feito as aplicações de botox nas glândulas salivares para diminuir a baba a dois meses, na AACD e, embora tivesse melhorado muito, elas não resolveram sua dificuldade em engolir, o que resulta em aspiração. Uma aspiração que não chega ao pulmão, mas que fica ali, paradinha na laringe, causando dificuldade na passagem do ar para o pulmãozinho.

Há alguns dias ele vinha fazendo a fisio respiratória, o que ajudava muito, evitando que a secreção chegasse ao pulmão, e não virasse pneumonia.

Também por orientação médica tinha comprado um aspirador, para tirar a babinha que ele não conseguia  se livrar sozinho. Levei um dia para a clínica e a fisio introduziu a sondinha pelo nariz até a garganta e aspirou toda aquela secreção, coisa que observei atentamente.

Naquela noite, lembrando das orientações da fisio, resolvi  aspirá-lo sozinha pela primeira vez.

Senti uma certa insegurança, ainda mais por ser de madrugada, o silêncio se torna um monstro, a escuridão faz tudo parecer maior e qualquer coisa se torna muito, muito intensa. No começo minhas mãos até tremeram um pouquinho. Só que a coragem se coloca no lugar do medo de errar quando se trata em trazer bem estar a nossos filhos.

Consegui aspirá-lo! Não sei se fiz de maneira satisfatória, o que importa é que a respiração melhorou e ele finalmente conseguiu dormir.   

Mas não foi bem isso que me fez perder o sono!

Acredito que esse seria um bom motivo para me fazer perder o sono. Mas não foi!  Existem coisas que podem parecer o fim do mundo, eu também pensaria assim a a alguns anos atrás. É incrível a capacidade que temos, e acredito ser uma característica do ser humano, em nos adaptarmos a qualquer situação, e lidarmos com ela de maneira natural.

Enfim o que me fez perder o sono naquela noite foi a chuva fina que começou lá fora. A festinha de 3 anos do Davi estava marcada para o dia seguinte e, talvez, os convidados não coubessem na área fechada de casa.

A alegria e ansiedade dos dias anteriores nos preparativos foram substituídos por uma frustração e comecei a pensar o que faria para que sua festinha não fosse um desastre. Não queria que o mal tempo atrapalhasse esse dia tão esperado por mim, festejar cada ano de vida dos nossos filhos é uma alegria imensa, mas esse em especial estava sendo diferente.

O Davi estava prestando mais atenção às coisas, olhava mais para as pessoas, e dava um profundo suspiro quando falávamos com ele, apesar de ainda não controlar a cabeça, sentar ou  mexer os bracinhos, o fato de saber que ele estava percebendo o mundo a sua volta nos dava uma satisfação enorme.E por isso tínhamos que comemorar!

Então fiquei ali, olhando a chuva pela janela e pensando que existem coisas da natureza, de Deus, que mesmo sem querermos, temos que aceitar. Não temos como fazer a chuva parar, ... e nem como mudar a realidade do Davi.

Deve existir um propósito...