Nós não paramos para pensar o quanto temos que coordenar respiração, mastigação e deglutição, é simplesmente muito complexo e não damos a menor importância. Mas meu pequeno Davi dava e ele não conseguia associar ou dissociar essas funções.
Eu nem imaginava que isso podia acontecer, para mim era função básica do corpo humano, funções fisiológicas que a gente não precisa aprender, já nasce sabendo. Mas para meu pequenino Davi não era, mais tarde descobri que ele sofria muito com essas funções.
Quando mamava por exemplo, na ânsia de matar sua fome, ficava por vezes sem ar, suas narinas dilatavam e sua pele mudava de cor ficando pálida, como é branquinho não percebia. Felizmente a fono percebeu e passamos a contar durante as mamadas: contava até cinco com a mamadeira na boca e até cinco sem mamadeira para ele respirar.
Em nossa primeira consulta ela me acalmou e me deixou realmente feliz. De mãe desconsolada por precisar de uma fono aos seis meses de meu filho, passei ,num período de meia hora, pela mãe mais sortuda do mundo pelo meu filho especial não se alimentar por sonda ligada diretamente ao estômago pela qual você introduz os alimentos.
Nossa! Eu nem sabia que isso era possível, para mim, em minha santa e ingênua ignorância, só se alimentavam assim pessoas internadas e ainda na UTI. E saber que algumas crianças se alimentavam e sobreviviam assim. Ufa! Me senti feliz pelo Davi não precisar.
Hoje faz um ano que o meu pequeno Davi, agora já não tão pequeno, fez a cirurgia, um procedimento muito simples chamado gastrostomia para colocar a sonda ligada ao estômago, onde eu introduzo uma dieta industrializada completa que o alimenta, satisfaz, o fez engordar e ficar mais saudável.
Da primeira consulta com a fono até as consultas com pediatra, neuro, otorrino, considerando também a convivência com outras mães cujos filhos já tinham a gastro foi um longo período de descobertas e adaptações, mas o que mais contou para minha decisão foi simplesmente o meu pequeno Davi!
Muitos foram os motivos que o faziam sofrer, a começar pela péssima alimentação, por mais que tivéssemos orientação de fono e nutricionista, ele se atrapalhava muito ao comer, depois começaram as febres e exames de raio x para que as bronco aspirações não virassem pneumonias, uma anemia aqui, outra ali e finalmente o golpe fatal foi vê-lo por várias noites dormir sem comer a saber que o cansaço venceu a fome, já que as secreções que aumentavam a noite não o deixava jantar.
E podem apostar não foi uma decisão difícil, era a coisa que eu mais queria fazer. Depois da cirurgia, embora insegura, pois não sabia como lidar com isso, eu me sentia feliz, e não via a hora de encher seu estômago de comida, ou melhor sopa, dieta.
Nunca me esqueço que depois que passou o longo jejum do procedimento e o nutrólogo mandou sua primeira dieta, ele dormiu devagarinho, conforme seu estômago ia enchendo a conta gotas. E eu dormi naquela poltrona nada confortável do hospital, mas um sono reconfortante e aliviado como a meses não dormia, sabendo que meu pequenino Davi estava saciado, literalmente de barriga cheia.
Hoje, já acostumada as dietas, sondas e glanulomas, uma reação da pele envolta da sondinha, me sinto muito bem e sempre brinco com a pediatra dizendo que sou a mãe mais feliz do mundo, porque meu filho se alimenta a hora que eu quero, come o que eu quero e quanto eu quero, já que esse parece ser o maior problema da maioria das mães.