Escrevi esse texto a umas duas semanas atrás, logo que fiquei sabendo que o Davi teria que enfrentar uma simples cirurgia para retirar adenóide e amígdala, pois estava com dificuldade para respirar. Não postei pois achei um pouco "pra baixo", pensei "foi um momento de insegurança, uma cirurgia tão simples não pode apresentar riscos" e resolvi deixar de lado.
Só que no momento em que o Davi passou mal depois da cirurgia na sala de recuperação e quase precisou ser sedado e entubado por causa da saturação muito baixa, me deu um medo de perdê-lo tão grande que só me lembrava do texto que ficou guardado em meus rascunhos.
Eu, naquele momento e nos dias seguintes em que ele lutou bravamente para se recuperar, tive a certeza de que mãe tem uma intuição que não falha, parece que a gente pressente o perigo rondando nossos filhotes. A partir de agora vou levar mais a sério esse sexto sentido materno....
Eis o texto:
Mãe às vésperas de cirurgia do filho
Ser mãe de uma criança especial, com necessidades especiais é se dividir em duas. Parte de mim é forte o suficiente para enfrentar qualquer situação sem ao menos se abalar, enquanto que a outra metade é frágil, cheia de medos, chorona e insegura.
O Davi é uma criança linda, encantadora, embora eu nem mesmo conheça o tom de sua voz e ele não deixe brinquedos espalhados pela casa, ele preenche um espaço enorme em nossas vidas, que causa alegria e contentamento.
Há uns dias ele passou a ter crises convulsivas que são imperceptíveis porque o neuro retirou um medicamento anti-convulsivante, o Sabril, e isso realmente fez falta. Comecei então a perceber que ele não olhava mais em nossos olhos, não dava aquela risadinha de lado que ele costumava dar. Liguei para o médico e não sabia como explicar pelo telefone o que acontecia, minha vontade era dizer: " estou com saudades do Davi", "ele não está por aqui."
Ainda bem que retomou os medicamentos e em uma semana ele nos brindou com aquele doce olhar.
Ele é uma criança que fica ali, onde você o coloca, seja no sofá, na cadeira ou deitado na sua caminha (ele tem uma caminha na sala em frente a tv).Você sabe que ele está lá, vendo tudo a sua volta e de uma forma ou de outra se divertindo com isso, ás vezes eu estou ocupada e passo por ele, assim que nota minha presença, ele simplesmente dá uma risadinha achando que vou falar com ele e não tem como não parar o que estou fazendo para brincar, conversar e enchê-lo de beijos. Delícia!
Outra reação dele que nos encanta é quando você fala com ele e ele choraminga, isso mostra o moleque safado que é, querendo atenção, ou um colinho. Às vezes ele finge estar dormindo, especialmente quando tem terapias por fazer.
Por essas e outras tenho muito medo de perdê-lo. Diante de todas as dificuldades que ele enfrenta fico pensando se sua passagem por aqui não será breve e se eu não tenho que me preparar para enfrentar uma possível separação, mas ás vezes que pensei nisso me peguei apertando-o forte em meus braços para que pudesse sentir seu coração batendo forte em meu peito e sua respiração em meu rosto.
É melhor não pensar nisso, mas os pensamentos vem e vão, ainda mais quando nos encontramos prestes a enfrentar mais uma cirurgia. Sei que não posso pensar assim, mas esse é meu lado frágil num momento de insegurança! Passa rápido!
O fato é que preciso ter meu molequinho aqui, com a chupetinha na boca como se fosse a coisa mais gostosa do mundo (e deve ser mesmo), para cuidar, me preocupar e sentir falta. Sinto falta quando ele dorme demais, quando toma algum medicamento que o deixa meio aéreo ou quando saio e não o levo junto. E quanto mais o tempo passa e ele vai crescendo, esse amor vai aumentando de um jeito que não tem como explicar, só sentir!