Estou lendo o livro Paralisia Cerebral de Sulamita Meninel, e já no início do livro me identifiquei quando ela conta como foram as suas fases de aceitação em ter um filho com necessidades especiais.
Passei pela fase da tristeza, da revolta, dos choros incontroláveis dentro do banheiro, depois entrei na fase da super-mãe, aquela época em que você esquece de si mesma e se dedica ao máximo buscando os melhores tratamentos e alternativas, dando sempre prioridade a criança.
Mas como ela diz, tem a terceira fase, aquela em que a mãe deixa de ser a super mãe e passa a pensar mais em si mesma, volta a ter vaidade, a pensar em sua vida como profissional e também cuida dos filhos com zelo e cuidado, especialmente do filho que requer mais esses cuidados.
Portanto estou num período de transição, saindo da fase super-mãe e me enredando pelo caminho da mãe que pensa mais em si mesma. Não sei quanto tempo vai durar essa transição, talvez anos. Quando se é a continuação do corpo de seu filho, sendo seus braços, suas pernas, sua voz, fica muito difícil se desligar, por um momento sequer parece que tudo vai faltar e nada será feito de forma correta, e olha que tenho pessoas maravilhosas que posso contar.
Com o Davi ainda é necessário um sexto sentido bem apurado já que ele não consegue se expressar, e acredito que só eu sei quando está feliz ou com alguma dor, quando quer brincar ou dormir. Síndrome da super-mãe!
Outro dia ao me ver pronta ao ligar para a pediatra pedindo um exame de urina para o Davi, minha mãe disse que eu estava sempre pronta para lidar com médicos, exames e doenças, e antes que eu me sentisse uma hipocondríaca pensei no quanto os exames eram importantes na vida dele já que não fala e não tem como me mostrar o seu incômodo.
Por, infelizmente, não ter uma visão de raio-x,(o que seria ótimo) é através de exames que sei o que se passa com ele e que caminhos devo tomar. Já não tenho esse mesmo cuidado com a minha filha. Mãe desnaturada? Não! Cuidados diferentes.
Outro dia ela me perguntou: "Mãe, de quem você gosta mais? De mim ou do Davi?" - perguntinha clássica! Ela sempre percebeu que com o Davi eu sou super-mãe, e com ela sou só a mãe.
Pensei por alguns instantes aflita, sem demonstrar, claro, o que responderia àquela garotinha de nove anos e finalmente disse: "Não sei te responder de quem eu gosto mais, amo os dois igual, sei porque não ficaria sem nenhum de vocês. Mas digo que se não fosse você eu não teria suportado e seguido firme em meus momentos de dor quando descobri que o Davi era uma criança especial. E até hoje diante os desafios é você que me ensina que eu devo acordar todo dia, ser feliz, fazer uma festinha, sair pra passear, e você faz isso porque eu te amo muito, nem mais, nem menos que o Davi".
Foi muito emocionante porque ela chorou, e disse: "Nossa, que bom que você falou isso, mãe!"
A M. é uma criança muito doce e inteligente, ás vezes parece um adulto falando. Então não tem como florear muito, ou você a convence ou não a convence! E quando eu a convenci disso me convenci de que tenho que sair da fase de super-mãe e ser simplesmente mãe!