
Não consigo me lembrar do dia da
semana, sequer o dia do mês, mas era julho, porque me lembro do frio, da chuva, do céu noturno sem estrelas. Não chovia naquele momento, mas o dia tinha sido chuvoso. Me lembro do céu perfeitamente. As
estrelas não eram prometidas, principalmente em se tratando da cidade de São
Paulo, onde a poluição normalmente não as deixa brilhar.
Mas aquele céu não era
meu foco, não era no céu que procurava meu consolo e nem naquela paisagem
escassa de beleza, com telhados sujos e úmidos e ao longe alguns prédios sem
nenhum tipo de luxo, e sim em algo abstrato muito mais amplo e promissor, um
Pai, um Milagre, ou qualquer coisa que aliviasse a minha angústia.
Naquele
momento eu não me lembrava das orações e talvez elas ali não fizessem sentido, pois não conseguia me concentrar nelas, mas eu sabia o que queria, tudo estava bem claro em relação a isso e
do fundo do meu coração eu conversava com Deus.
As palavras
que saíam de minha boca, juntamente com as lágrimas que rolavam em minha face,
desejavam o fim. Fim de um doloroso período no hospital em que meu filho
Davi, uma criança com 2 meses e com uma má formação no SNC não conseguia reagir
a sucessão de crises convulsivas que teve desde o seu nascimento e estava
inerte, sem reação alguma.
Naquele
dia, depois de quatro dias entre UTI, exames de sangue, eletroencefalogramas e
ressonância magnética do crânio, conversas com médicos, e finalmente um diagnóstico dado de
que ele tinha uma má formação no cérebro que comprometeria o seu
desenvolvimento motor e psíquico, exaustos, eu e meu marido resolvemos passar a
noite na casa de minha mãe, que na ocasião morava em São Paulo , e ela
passaria a noite no hospital, assim tentaríamos descansar.
Diante
daquela situação em que seu corpo e sua
mente não entram em acordo, e o sono não se faz presente, me levantei e fiquei
na janela a contemplar tal paisagem. Ali tive a mais profunda conversa com Deus que já tive em toda minha vida, e, ainda arrisco em dizer que poucas
pessoas tiveram.
Reservo a
mim o direito de não contar sobre a conversa, mas digo que foi franca e aberta,
eu não me encontrava em condições de rodeios.
Penso que Ele me ouviu e me
entendeu a fraqueza . No outro dia ao chegar no hospital, muito cedo, percebi
que o sol, que por dias se escondeu, já vinha timidamente iluminando as folhas
das árvores. Ao entrar no quarto do hospital, a surpresa: naquela noite Davi
tinha reagido, começou a se espreguiçar lentamente, respondendo aos estímulos
de massagens feita pela avó, minha mãe, e tomou aproximadamente 20 ml de leite dado pacientemente
também por ela como conta-gotas.
O
neuropediatra que cuidou dele naquele momento, e até hoje se faz presente em
seu tratamento, chegou até o quarto nos preparando para o pior, a idéia era
induzir um coma, e..., bem..., agora não importa o que seria, depois de um
exame neurológico longo e complexo, o médico olhou pela janela, onde os raios de sol já sem timidez
alguma aquecia o parapeito , olhou para mim com os olhos fixos e penetrantes
por cima dos óculos e disse: “Parece que hoje o sol voltou a brilhar”.
Naquele
momento Deus deu a palavra final de nossa franca conversa: “Seu filho vai
viver!”. Encontrei ali o meu milagre.
Lindo Kris!!!! Seu pequeno Davi está aqui e somente precisa de AMOR.... e isso vcs tem de sobra prá oferecer.... Beijo grande em seu coração!!!
ResponderExcluirMe emociono a cada post seu querida !!
ResponderExcluirSou mãe de uma menina que neste momento tem quase três anos e tem tetraparesia, posso dizer que o seu texto me fez arrepiar pois de algo parecido também eu passei, eles são todos lindos e cada um da sua maneira... Beijo
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