"Toca o despertador do celular, olho no visor para verificar a hora, não sei porque, todos os dias ele toca no mesmo horário, faltando dez minutos para as seis, é o tempo necessário para me arrumar, tomar um café e partir para as duas primeiras aulas da manhã, onde leciono algumas aulas de português para o 3º ano do Ensino Médio, a tarde volto para as aulas do Ensino Fundamental, 5ªs e 6ªs séries.
Seria tranquilo, se eu tivesse tido uma boa noite de sono, mas o telefone só tocou porque esqueci de desligá-lo, há muito estava acordada, o Davi há alguns meses têm acordado com choros assustados, ele dorme entre 40 minutos a 1 hora e meia e acorda com um grito, chora muito e dorme de novo.
Mas preciso manter meu trabalho em dia, não misturar as coisas, entre uma aula e outra, ás vezes com a tarde livre, depois de levá-lo a fisio tiro umas sonecas, e reveso com o pai."
(...)
"Quatro e meia da manhã Davi acorda faminto, desço para preparar seu mingau, super fortificante com Fortini, leite, frutas e Mucilon, ele toma na mamadeira, com o bico bem grosso.
Dormi mal, ele estava febril a noite. Está broncoaspirando.
Não come nada desde o entardecer, todos os dias tem sido assim, devido ao cansaço ele não dá conta de engolir a saliva, forma muita secreção e ele também não consegue comer. Com muito sacrifício dou os remédios, aí ele dorme, dorme com fome, porque a um ano vem tomando Frisium, um calmante, por causa dos choros assustados que ele tinha, senão acho que não dormia.
Davi alimentado e tenho que me preparar para mais um dia de trabalho, agora só leciono de manhã, para as 8ªs séries, até a hora do almoço, a tarde me dedico a ele, vamos a fisio, fono, natação e médicos, muitos médicos, precisamos descobrir a causa de tantas febres .Muitos dias preciso faltar, as febres são cada vez mais constantes."
Assim descrevo dois de infinitos dias, ou melhor, manhãs em que a responsabilidade tinha que vencer o cansaço e eu deixava o Davi, com o coração apertado com minha querida C., companheira de todas as horas, para me dedicar a minha profissão, ao meu trabalho. Ou a preocupação e o cansaço venciam a responsabilidade e eu deixava meus alunos sem aula.
Não consegui conciliar as duas coisas por muito tempo, até porque penso que não conciliava, uma sempre ficava mal feita, ou eu ficava acabada, era um tripé, que algum lado desabava.
Abri mão de meu trabalho a um ano e meio com o coração partido, deixei tudo de lado e fui cuidar do Davi, e da M., e da casa, e do pai deles, enfim a gente nunca fica desocupada.
É claro que os dias são tão cheios e passam tão rápido que não percebemos e no momento que paramos pra pensar, vem aquele sussurro ao ouvido nos lembrando que também deixamos coisas importantes para trás, coisas que gostávamos de fazer e que éranos recompensados por isso em muitos sentidos.
Mas acredito que tudo são fases, e todas as fases passam, ano que vem pretendo voltar, com poucas aulas, talvez dois ou três dias na semana.
Primeiro as prioridades. E hoje os filhos são as minhas prioridades, em especial o Davi, porque não vai a escola, e precisa ser cuidado e estimulado o tempo todo.
Kristhine, parabens pela sua iniciativa de escrever num blog, a sua história de mãe de um menino com deficiência. Quanto mais pais partilharem seus conhecimentos e dúvidas, mais efetivamente teremos oportunidades de tornar público questões tão necessárias de serem ouvidas e atendidas. Receba o abraço de nossa equipe. Gisleine M Philot. T.O.
ResponderExcluirObrigada Gislene, segui o exemplo de outras mães que tanto me orientaram nessa minha caminhada, quando partilhamos percebemos que não estamos só, e isso ajuda muito. Abraços Kristhine
ExcluirOlá Kristhine!!! Adorei seu texto!!! Enquanto lia, me coloquei inteiramente em seu lugar, pois trabalho meio período e o outro cuido das coisinhas do Matheus e do Arthur...que por sinal são muitas..e com isso o dia já terminou e eu estou esgotada, é claro... mas tb acredito em fases... queria tanto que passasse essa em que eu estou!!! Grande bj prá vc vencedora!!!!
ResponderExcluirImagino o quanto fica cansada, ainda mais pela sua profissão que deve ser desgastante, mas imagino que muito gratificante. É claro que essa fase vai passar. Virão outras, mas assim é a vida né!
ExcluirTambém te considero uma vencedora e fico feliz em ver os progressos do Matheus, me lembro quando ele era bebê e sua mãe me falava de vocês.
Desejo tudo de melhor a vocês!!!!
kristhine